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Arquitetos: Localworks
- Área: 2000 m²
- Ano: 2021
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Fotografias:Will Boase
Descrição enviada pela equipe de projeto. O Mosteiro Nossa Senhora da Vitória foi originalmente estabelecido no Quênia em 1952. Ele abriga uma comunidade de monges da ordem cisterciense que se mudaram para Uganda em 2008, após as agitações pós-eleitoral no Quênia. A proposta arquitetônica do escritório Localworks deveria responder à demanda de duplicar o tamanho do mosteiro anterior e acomodar uma comunidade crescente de monges. O projeto inclui um total de quatro novos edifícios: a igreja, o noviciado, a casa de hóspedes e o portão de entrada. Todos os edifícios têm detalhes intrincados em tijolos de barro e estão dispostos ao redor de três pátios.
As considerações do projeto estão estreitamente alinhadas às tradições de construção cisterciense de criar espaços puros, sem distrações, pelo bem de uma vida de oração e devoção religiosa. A igreja é um volume comprido, estreito e alto, com uma abóboda de berço; trata-se de uma referência direta à arquitetura das igrejas monásticas. Por mais tradicional que seja o espaço, sua estrutura foi sutilmente invertida; ao invés de colunas de alvenaria sólida com janelas no meio, "colunas de luz" parecem carregar esta igreja, ligadas por arcos feitos de tijolos intercalados com garrafas de vidro.
Além de fazer referência à tradição arquitetônica monástica dos cistercienses, o projeto responde cuidadosamente ao contexto local, considerando materiais, clima e cultura. Um telhado tropical secundário e leve paira sobre a igreja, sombreando e protegendo o edifício, coletando água da chuva e fornecendo espaço para painéis fotovoltaicos. A alvenaria reforçada da igreja, com garrafas de vidro embutidas, forma "arcos de luz" que direcionam a luz solar para dentro da igreja ao meio-dia. Também se brinca com a luz: os brises na parede leste recebem luz no solstício e nas manhãs de equinócio, e uma rosácea projeta um ponto circular de luz direta para dentro da igreja durante os cultos à tarde.
Os outros três edifícios do mosteiro são volumes modestos ao redor de pátios. Embasamentos inclinados feitos de faixas de telhas de barro empilhadas elevam estes edifícios acima do terreno que costuma ficar encharcado. Acima, há um jogo entre paredes de tijolos maciços e vazados, esbatendo as linhas entre paredes e aberturas. Em direção ao pátio, as coberturas das passarelas são sustentados por paredes de tijolos perfurados de tamanhos variados.
Em termos materiais, o projeto utiliza tijolos queimados de forma sustentável com cascas de café. O uso do tijolo como material principal segue o princípio cisterciense de "somente material": o tijolo está disponível perto do terreno, envelhece bem e é fácil de manusear. A construção dos contrafortes da igreja em tijolo, que vão aumentando gradualmente em espessura e profundidade em direção ao solo, expressa arquitetonicamente as linhas de distribuição estrutural de cargas e momentos. Todas as novas construções são ventiladas de forma passiva, graças à ventilação cruzada, aberturas de telhado ventiladas, material de telhado refletivo e janelas sombreadas. Isto garante um clima interno confortável durante todo o ano.
O desenho paisagístico do projeto forma espaços simples e contemplativos que facilitam a vida de meditação e reflexão dos monges. O jardim do claustro é destinado exclusivamente à observação, enquanto o pátio em frente à igreja responde à ideia de transparência da ordem, ao mesmo tempo em que cria fisicamente uma barreira protetora do mundo exterior. Essa característica contrasta com o desenho do pátio dos hóspedes, que permite a interação direta dentro do espaço do jardim.